20 setembro, 2013

Otis Rush - Double Trouble


Até pensei em postar no Facebook, mas lembrei que rede social é algo que não registra nada no longo prazo, e esta nulidade aqui já tem quase uma década.
Enfim, a música cai bem no momento, "to make it you've got to try". Perdão se nunca sei o que vestir, se morro de medo de não ter emprego e se me sinto mal nesta geração de milionários.
Perdão, eu no futuro, pela ansiedade boba.
Espero.

13 setembro, 2013

Pesadelo das identidades

Domingo eu sonhei que estava em um apartamento em Buenos Aires. Outras pessoas (família, amigos, sei lá) andavam pelo apartamento, que parecia um pouco com o da Praça da Matriz, só que menor. Era uma área densa de prédios e o apartamento ficava no topo, de onde se enxergava o topo de outros prédios. Aos poucos, uma comoção começou a se formar nas varandas: alguém estava de pé, na beirada de um dos prédios, ameaçando se jogar. Escutei gritos, alguns tentavam dissuadir o suicida, mas então aconteceu.
De repente, o corpo se soltou. Pra morrer.
As pessoas gritaram de desespero, mas então tudo parecia normal. Era absurdo, anormal, uma fatalidade.
-
Então, o sonho continuou no mesmo apartamento. Outra pessoa havia se atirado pra morrer.
Depois uma terceira.
Todas as pessoas nos topos dos prédios gritavam cada vez que um dos corpos se entregava pra esfaçelar no chão. Eu chorava, desesperado.
O último a se matar era um senhor, que se deu o trabalho de colocar uma cadeira na beirada de um dos prédios. Ali ficou, culpando sei lá quem pela decisão de se matar. Apesar dos apelos, se inclinou e caiu, com cadeira e tudo, descrente da vida. 
Tinha essa sensação no sonho, de que todo mundo tentava convencer as pessoas a viver, e faziam o melhor de si, mas no final, o suicida simplesmente pensava, racionalizava até, e concluía que não valia a pena. 
E esse momento de reflexão, em que eles decidiam se matar na mais plena lucidez, que me marcou. É essa sensação que está me incomodando desde o momento em que acordei do pesadelo até agora, 5 dias depois. 
É raro eu lembrar de um sonho 5 dias depois. Desse eu lembro como se recém tivesse sonhado. 
-x-
E não, esse não foi um sonho sobre suicídio. Foi um sonho sobre escolhas. 
Tive que explicar pra Bruna o porquê de eu não ir em nenhum evento que envolva meus amigos do Piratini.
Foi horrível pra mim, mas seria babaquice insistir em desculpas que não tem nenhum cabimento, do tipo "não vou na formatura do Miguel porque tenho um evento do meu curso no mesmo dia". Em qualquer outra circunstância, a formatura de um amigo querido seria uma data tão sagrada quanto o aniversário da minha mãe.
Perder isso (a referência de um amigo) foi mais um acontecimento que me colocou em parafuso este ano. A pior parte é me sentir culpado. Eu passei os últimos oito anos priorizando uma lógica de aperfeiçoamento pessoal absolutamente narcisista, incapaz de dedicar tempo para cultivar amizades. Isso não é uma justificativa para as pessoas sentirem prazer na perversidade comigo. Mas se eu parasse de correr tanto, de ter tanta expectativa, talvez eu teria tempo para conhecer as pessoas e decidir se elas correspondem ao que eu espero. 
Eu sempre espero que as pessoas se esforcem pra me conhecer, e elas acabam tendo que decidir se vão pular fora ou não. 
Nesse sentido, talvez o Quinho tenha razão. Talvez eu nunca tenha me apaixonado. Nunca me esforcei pra convencer alguém de que eu sou legal e posso provar.
Será que isso é um pré-requisito? Sentir-se desprotegido e desafiado? 
Na real, acho que o que importa é garantir o vínculo mesmo. Eu negligenciei as amizades nos últimos 8 anos. 
Tipo meus cactus.
Eu tinha três cactus aqui em casa. Sempre me disseram que cactus é tão resistente que não precisa receber água. Depois de três anos, dois dos cactus morreram. Nem os cactus são tão autossuficientes assim.
Não vou nem falar o que aconteceu com minha azaleia.

As pessoas que mais amo nesse mundo datam de uma época em que eu conseguia fazer isso. Uma delas anda esquecendo de fazer o mesmo, mas eu sou a pior pessoa pra julgar.