04 novembro, 2010

Eu lembro dos gritos agudos como o apito de uma chaleira. Deve ser realmente necessário sentir uma dor horrível para gritar daquele jeito. Como se estivessem contraindo cada músculo do corpo a ponto de estourar as veias e quebrar o pescoço. Enquanto queimavam, tive vontade eu mesmo de gritar, de me atirar ao fogo e gritar mais alto. Estava abrindo mão da minha lucidez. Achei a cena toda muito bonita, não querendo ser cínico. Não acho que a dor seja poética, mas as cores eram diferentes, as luzes piscando pelas frestas das casas de madeira. Poderia ter gritado, mas hesitei. Aqueles sons não podiam ser humanos.